De quantos cumes precisa um Montanhista?
No conto, um camponês que foi ficando rico e ganancioso chamado Pakomé, fica sabendo de uma terra muito mais fértil do que a sua, as terras dos Bashkirs, à frente do Rio Volga, com uma “gente simples” e “facilmente conquistável”, essa era a informação que foi passada a Pakomé.
De posse dessas informações, parte para sua jornada até a terra referida. Quando finalmente chega aos domínios dos Bashkirs, é informado que por mil rublos ele pode ter tanta terra quanto nela puder andar durante um dia inteiro, desde que retorne ao ponto de partida antes do sol se por.
Pakomé, fica exultante e assim que acertado os dados do contrato se põe a andar para pegar a terra que “precisava”, avista uma paisagem mais bonita do que a outra, um lago ali ou terra fértil acolá, colinas, pastos e assim vai andando o mais rápido possível, até deixa de carregar sua mochila que continha pães e água, afinal quem se preocuparia com fome num dia como aquele.
Depois de certo tempo percebe que o sol começa a se pôr. Diante do risco de perder tudo, começa a correr cada vez mais depressa para fazer a tempo o percurso de volta. “Peguei demais”, diz a si mesmo, “e arruinei tudo”. Ele corre o mais rápido possível, mas o sol parece correr mais do que ele.
O tamanho do esforço acabo por mata-lo . Ele morre a dois metros do ponto de partida e ali mesmo é enterrado.
Tolstói conclui: “Seis palmos da cabeça aos joelhos era tudo o que ele precisava”.
Essa idéia de ganância, anda me perseguindo desde a série “Everest, O preço da Escalada” e ainda me pergunto qual será o real sentido para aqueles caras estarem escalando a montanha.
Será que é pelo visual? Pelos amigos? Pelo desafio físico? Ou pelo simples prazer de estar na montanha?
Não sei, mas não me parece que seja por nenhum deles, e sim pela glória ao próprio homem, pois acreditam que ao voltar, serão considerados como semideuses, super-homens capazes de galgar as maiores dificuldades impostas ao seres humanos, enfim, heróis humanos ainda vivos.
Afinal, eles estiveram no ponto mais alto da terra, e olhando por outro prisma, o local mais próximo do céu e de Deus.
É bem verdade, que o montanhismo nos proporciona uma sensação de sermos os únicos, de sermos privilegiados por estarmos ali pelos nossos próprios esforços, mas isso tem que ter limites, senão a mídia nos transforma em super-homens, que não somos, e aos poucos somos levados pelas glórias dessa "conquista".
Por isso, a frase “maldito o homem que confia no homem” (no sentido de confiar muito nele mesmo) é cada vez mais real em nossos dias.
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