As montanhas e o Oxigênio, uma relação nem sempre muito feliz
Numa tarde ensolarada, você está lendo uma revista que descreve as dificuldades que certo montanhista teve para preparar sua escalada rumo ao cume do Everest. Ele descreve como entrou em contato com uma empresa específica em colocar clientes no cume do Everest ao preço de $40.000 por pessoa, os preparativos físicos e logístico, a longa caminhada de aproximação, as dificuldades dos sherpas em instalar as cordas no primeiro dia da temporada, o cansaço, a quantidade de pessoas escalando ao mesmo tempo e finalmente sua foto no cume. Uma foto que mostra o escalador cheio de roupas e com uma bandeirinha de seu país, mas uma coisa te chama atenção. Esse montanhista está com um tubo no rosto e você fica sabendo que é oxigênio.
Cena 2
Um tempo depois você lê outra reportagem sobre escalada no Everest, mas dessa vez é a história de um casal de Brasileiros que tentam pela oitava vez, fazer o cume, sem ajuda de sherpas e de agências, sem patrocínios, dividindo a permissão com outras agências para terem o direito de estarem escalando nessa temporada e com uma logística toda montada por eles, e somente para eles.
As fotos são parecidas, porém sem o tal tubo de oxigênio.
Imaginou a cena? Agora, o que diferencia os dois personagens?
Parece sutil, mas temos aqui dois representantes totalmente diferentes dos amantes da alta montanha. O primeiro é o típico turista-montanhista que busca o cume a todo custo, de uma maneira "segura" e, independente dos custos e da metodologia o que ele quer é estar lá.
O segundo representa a vertente mais clássica dos montanhistas, onde a relação com a montanha deve ser justa e equivalente, e todo beneficio ou melhora artificial não é aceito.
Baseado nessa opinião, em 2007 a UIAA (União Internacional das Associações de Alpinismo) publicou uma nota dizendo que qualquer escalada com o uso de oxigênio passa a ser considerada dopping, conseqüentemente sem valor.
Os montanhistas que vão para esta montanha são de várias partes do mundo, todos com uma visão ética baseada em sua cultura e um biotipo baseado na cultura alimentar de seu país, o que gera uma discussão de valores totalmente globalizada com todas as interferências culturais de cada povo.
O que estamos discutindo na verdade não é uma proibição de escalar com ou sem o oxigênio, ainda mais porque seria impossível fiscalizar uma conquista feita com oxigênio e outra sem, assim como uma conquista feita com a ajuda de sherpas e toda uma estrutura e outra feita pelo método clássico.
Uma vez um mergulhador me explicou porque era proibido pescar com cilindros. Sabem por quê? Porque é injusto para com o peixe, já que você está com o arpão e o oxigênio, que chance teria o peixe!?
Assim é com a montanha, que chance tem ela se todos forem super preparados com equipamentos artificiais e toda logística montada pelo povo mais adaptado as grandes altitudes?
Segundo o site Everestnews.com, dos mais de 600 montanhistas que fizeram o cume nessa temporada, apenas dois fizeram sem oxigênio.
Parabéns ao Paulo e Helena Coelho, por mais essa tentativa!!!
Outros vídeos do Paulo e Helena no Everest 2007, aqui
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