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O Cordada Infinita é um blog com artigos sobre Escalada, Equipamentos e Notícias relacionadas ao Montanhismo. Nasceu de uma idéia simples: Escrever, Comunicar e Divulgar fatos e opiniões sobre o mundo da montanha. É mantido por Levi Rodrigues desde maio de 2007. Se você tem alguma sugestão sobre um artigo, participe enviando sua pergunta ou opinião sobre os assuntos postados.

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Consumidor Consciente

Quem é de São Paulo, provavelmente já conhece ou já ouviu falar de Monte Verde, um pequeno vilarejo incrustado no meio da Serra da Mantiqueira, a aproximadamente a 1500 metros de altitude.

Monte Verde para os turistas tem aquele apelo de tranqüilidade, romantismo, boa gastronomia, bons hotéis e a "aventura radical" que os vilarejos de montanha proporcionam para pessoas um pouco mais refinadas.

Porém o que isso tem haver com montanhismo? Quase nada. Conheci Monte Verde a mais de 10 anos em minha primeira travessia (S. Francisco do Xavier x Monte Verde) com um daqueles roteirinhos do Beck, xerocados e comprado nas lojas de aventura de SP.

Em nem imaginava o que aquela travessia iria me proporcionar. Primeiro, eu não sabia o quão frio eram "aquelas bandas" e quase entrei em hipotermia na primeira noite, não tinha a mínima idéia de orientação, alimentação e equipamentos, planejamento nem pensar!!!! Quando resolvi fazer a travessia, estava começando a ler o pouco de material que se achava na época e resolvi ir sozinho, pensando que seria fácil desbravar aquela serra.

Acabei fazendo uma travessia de um dia e meio em quase três dias!

Depois de algum tempo perdido em cima da serra, de uma noite mal dormida no meio de um reflorestamento, e de um feriado chuvoso, finalmente cheguei a Monte Verde, com a ajuda divina de um cara que estava passeando a cavalo no meio do reflorestamento.

Monte Verde não mudou muita coisa nesses mais de dez anos no que diz respeito a sua área geográfica, ainda sinto aquele "frio na barriga" ao lembrar do que passei em cima da montanha, mas também sinto aquela emoção de conquista, de realização, de satisfação, ao terminar uma travessia. Sinto isso toda vez que passo na trilha que saí da montanha para a vila.

Nesses anos voltei inúmeras vezes aquela serra, fiz várias outras travessias na região, conheci pessoas diferentes, levei pessoas para conhecer as trilhas, desbravei todas as suas montanhas.

Agora estava preparado para frio, sabia me orientar, me alimentar, sabia como reagir ao cansaço e as trilhas ficavam cada vez mais prazerosas para mim, cheguei até a sair a tarde de SP para chegar de madrugada na montanha, só para dormir lá.

Mas nunca tinha ligado muito para a vila, com seus turistas de inverno, de jipões 4x4, hotéis caros, suas lojinhas de queijos e vinho. Chegava lá, comia alguma coisa na padaria e pegava o primeiro ônibus para Camanducaia (Monte Verde é Sub distrito dessa cidade) e depois para SP, até que Deus me abençoou e casei com a Cris, que tem família justamente aonde? Em Monte Verde!!

Passei a conhecer o outro lado da vila, andava por ruas que nem sabia que existiam, que subiam até as bases das montanhas, conheci seus rios e riachos e principalmente sua história.

Monte Verde começou quando Verner Grimberg, um imigrante Leto que trabalhava com madeiras, começou a vender os primeiros lotes de terreno nos anos 50, atraindo principalmente Cristãos Batistas que vinham com seus pais para a colônia da Varpa, em Tupã (SP).

O Seu Verner, como ficou conhecido, morreu no fim do ano passado, após criar uma "cidade" com toda infra-estrutura necessária para se viver, ganhar dinheiro e principalmente influenciar uma geração inteira de imigrantes Alemães, Letos e Russos, com seus ideais de vida.

Seu Verner não era exatamente o montanhista como conceituamos hoje, mas ele amava as montanhas igual ou mais do que nós. Quando comprou alguns lotes da antiga fazenda "Campos do Jaguari", que era habitada por não mais do que algumas poucas famílias, por alguns "contos de reis" que tirou do bolso, já sabia que estava comprando uma terra de sonhos, terra que seus pais almejavam quando vieram da Letônia para o Brasil, fugindo da Primeira Guerra Mundial e do Comunismo que avançava na Europa.

Veio com ele sua esposa (Dona Emilia) e alguns familiares. Depois de algum tempo e, de comprar vários terrenos da região, passou a chamar a antiga fazenda de Monte Verde, que é uma tradução livre de seu nome.

Com o tempo foi criando uma infra-estrutura simples, mas eficiente para os moradores, como gerador de energia elétrica, fez a capitação de água com mais de 40km de tubos enterrados, casas de madeira, criou uma pequena olaria e tudo da maneira mais consciente possível.

Hoje, Monte Verde tem inúmeros bons hotéis, bons restaurantes, ainda não possui muitas ruas asfaltadas e tem casas com valores de mercado que superam muitos bairros de SP e com isso o sonho do seu Verner foi dando espaço a muitos sonhos de pessoas diferentes, com valores diferentes e consumidores nem tão conscientes.

Antes, Seu Verner tinha que pedir autorização para cruzar a área da melhoramentos e ir até a estrada para pegar turistas, hoje eles vem aos montes com carros importados, roupas da moda a procura de uma "aventura" diferente.

É nesse ponto que queria chegar, dá mesma forma que não fui orientado em nada ao comprar o roteirinho do Beck , sobre o que era uma travessia, quais os cuidados e "riscos" que envolvem a prática do montanhismo, os turistas também não o são.

Pessoas que poderiam ser informadas antecipadamente sobre o impacto que seus carros trazem aquelas ruas apertadas, sobre a fauna e flora que há muito tempo vem sofrendo sérias conseqüências, sobre o barulho que fazem nas noites de fim de semana, o lixo que deixam em uma vila que não tem estrutura o suficiente para atender toda essa gente.

Numa entrevista, vi seu Verner citar que gostaria de ver a cidade crescer, que a estrada que liga a Camanducaia fosse asfaltada, que suas crianças tivessem uma melhor educação, mas que isso tudo fosse para garantir a tranquilidade e a qualidade de vida de seus poucos moradores.

O refúgio que vi há poucos anos atrás está sendo ameaçado, a pequena comunidade de montanhistas da região a muito tempo denunciam a falta de respeito com as bromélias que brotam nas paredes das montanhas, sobre a falta de ética das "agências" ao colocar "Ps" (para rapel) em cima de paredes com ninhos de aves, a falta de investimento e reciclagem do lixo produzido por todos e muitos outros problemas sociais criados pela vinda de muitas pessoas de cidades próximas para trabalhar nos hotéis e restaurantes.

A disputa política sobre a emancipação de Monte Verde gera um "esquecimento" por parte do prefeito de Camanducaia das principais necessidades reais da região e o que podemos ver, ainda são os feitos que o seu Verner deixou. O aeroporto (o mais alto do Brasil) continua lá, a rede de água que foi doada a Sanasa teve poucas alterações, o terreno da escola, do hospital são os mesmos, as cachoeiras já não são mais acessíveis, a água do principal rio agora é imprópria ao consumo humano, não há mais tantas frutas na região e os esquilos sumiram há algum tempo.

E depois de tudo, ainda estou me perguntando se "Temos o que comemorar no Dia do Meio Ambiente"!



1 Comentários:

  1. Anônimo disse...
     

    necessario verificar:)

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