Na natureza Selvagem, em filme
O livro é fruto de uma matéria publicada com o título "A morte de um Inocente" (Death of an Innocent) em março e abril de 1993 para a Outside, onde Krakauer entrevistou pessoas, visitou lugares e recolheu pistas para contar a história de um jovem americano, de família rica, que resolve largar sua carreira, sua herança e o diploma recém conquistado, para partir em busca de sua verdadeira essência: sair pelo mundo em busca de novos desafios e lugares desconhecidos.
Depois de mudar de nome, abandonar seu carro e seguir de carona, o personagem desaparece pelas estradas do país. Somente dois anos depois e muitas aventuras é encontrado morto, sozinho, dentro de um ônibus abandonado em um lugar totalmente inóspito no estado do Alasca.
Um livro assustadoramente real sobre o ser humano e sua incansável busca pela pelo lugar no meio ambiente,
Espero que saia por aqui e que retrate com fidelidade o texto do Krakauer.
Coleira para Montanhistas
Eu já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto. A Backcountry Access (BCA), produz o Tracker, um rastreador para situações de emergência, como avalanches e quedas. Quando acionado o aparelho emite um sinal frequencial, permitindo que outros possam localizá-lo com muito mais agilidade através de sinais de direção.
O último modelo, o Tracker 2, terá um processador Intel para agilizar o sinal, uma terceira antena para dar sinal em 3d e um sistema de energia que consome menos bateria (bateria AAA), suas dimensões (13.2cm x 8.6cm x 2.5cm) são menores em relação ao seu antecessor e uma capa de proteção em plástico faz com que o aparelho seja muito resistente à situações mais duras em montanha.
O Tracker 2 deve ser lançado no fim desse ano, enquanto isso continua sendo vendido na Europa, Canadá e EUA o modelo Tracker DTS.
Itatiaia, os 70 anos de um parque proibido.
O primeiro e mais antigo parque nacional do Brasil, o Itatiaia, completou setenta anos na semana passada num evento que reuniu prefeito, montanhistas e entidades ligadas ao parque, onde se discutiu e mostrou novos projetos tanto para a parte alta como para a baixa.
Não vejo nada de positivo nessas comemorações, ou melhor dizendo, há muito tempo sou cético com qualquer intenção do governo e da prefeitura com relação aos parques nacionais, simplesmente, porque o histórico mostra que essas iniciativas sempre acabam com medidas negativas e drásticas, como proibições e normas de pouca ou nenhuma utilidade.
Conheço o Itatiaia para lá de 10 anos e sempre tive problemas seja com as áreas de acampamento, com as trilhas fechadas, polêmicas no cadastramento de guias, devastação pelo fogo e mau uso em geral do parque e tudo com a "autorização" da prefeitura, do parque, do governo, do IBAMA e dos demais órgãos ligados a toda essa "burrocracia" que envolve as questões ambientais.
Recentemente houve uma prova do Ecomotion/PRO, dentro do parque, utilizando trilhas que estavam fechadas a muito tempo, com a promessa que depois do evento elas seriam abertas ao público, graças aos acordos que prometiam verbas para investimento na manutenção das trilhas e principais pontos de visitação e também para a infra-estrutura do parque, o fato é que já se passaram mais de seis meses e nada de abertura de trilhas.
Por esse e outros motivos parecidos, o parque é uma grande decepção para muitos montanhistas, que sabem de sua beleza, mas não podem usufrui-lo de maneira legal.
Espero que um dia isso mude, espero que ao chegar à portaria do parque, seja informado que no valor do ingresso, está incluso uma carta topográfica com as principais trilhas mapeadas, com todas as indicações sobre as áreas de acampamento, água, vias de escalada, um pequeno manual com regras de mínimo impacto e de como se comportar com a fauna e flora e principalmente que tenha que assinar um termo de responsabilidade civil, onde se assume o risco por não estar contratando um guia (que hoje é obrigatório), bem como pelos atos cometidos dentro do parque, que podem e devem ser penalizados pela justiça convencional, caso haja algum infração.
Fica aqui o protesto e a critica construtiva de mais um montanhista frustrado, por não poder usufruir de todas as maravilhas que D. Pedro viu ao vislumbrar o primeiro parque do Brasil, o Parque Nacional de Itatiaia/RJ.
Breakfast in América ou Amerika
Relendo as mensagem que derivaram o post abaixo e ouvindo as duas músicas acima, resolvi continuar escrevendo sobre o assunto.
Muito se fala sobre a influência do mercado Outdoor Americano e Europeu no design de produtos pelo mundo afora, é claro e inegável a contribuição histórica que várias marcas deram para o montanhismo mundial, mas quando vamos a uma loja de equipamentos para montanhismo aqui no Brasil ou em outros países da América do Sul, como Argentina e Chile, sinto é como se estivesse em um outro continente, um outro país, dado a quantidade de produtos importados, que até esqueço como é a cultura do montanhismo Brasileiro.
Isso acontece porque acostumamos a ter como referência, através de revistas, livros e outros tipos de midias, montanhistas Europeus ou Americanos usando roupas coloridas por causa do branco total da neve, escalando muito e praticamente sem problemas financeiros para comprar equipamentos ou para viajar, achamos que isso se justifica e assim aceitamos comprar um produto que hora possui a manga maior ou um tamanho menor, mochilas com alças curtas, cores meio estranhas ao nosso gosto e até mesmo inutilidades como Jaquetas em Gore-tex , desenvolvidas para usos exclusivos em climas frios e não para um clima tropical como o Brasil.
Quando nem sabemos diferenciar uma marca nacional de uma importada, ou se escalamos com uma 5.10 ou com uma Anhangava, dificilmente teremos a tal "alma", tão almejada por uns ou tão odiada por outros, mas as rochas estarão sempre a nos perguntar. - Quem será o primeiro a me conquistar? É você!?!??
Nosso pouco tempo na história do montanhismo faz, que, ainda temos que discutir o certo e o errado, assim como as duas músicas (Breakfast in America e Amerika, a primeira da banda Britânica Supertramp e a segunda da banda Alemã Rammstein), continuam a discutir com ironia, a ilusão da maravilhosa sociedade americana, com seus valores calcados na prepotência militar e intelectual de seus compatriotas, e é nesse ponto que me lembro da celebre resposta que a multidão dava ao Renato Russo e a Legião Urbana, quando ele questionava o motivo de estarmos tão americanizados.
- Que pais é esse? E todos em uníssono respondiam – É a P#@@& do Brasil!!!!
Escalador de Alma, você é um deles?
Afinal de contas, o que é um escalador de Alma? Essa semana aconteceu no HangOn, uma discussão muito interessante sobre os "Valores" de um montanhista.
Em uma mensagem, o montanhista pergunta: - Escaladores de alma, você é um deles? Essa pergunta gerou uma série de opiniões divergentes sobre o assunto.
A definição e o conceito de alma (psyque), também é motivo de muita polêmica nos meios teológicos, justamente pela complexidade de interpretação Bíblica sobre o assunto. Se pudesse conceituar a palavra alma da maneira mais simples possível, seria algo assim:
"A força vital do ser humano ou a parte que não morre ou também a vida interior que abrange os desejos e as emoções"
Como podem ver a alma é algo extremamente ligado as emoções.Tá certo, que só usei esse conceito para ilustrar a importância da palavra alma quando utilizada para expressar a intensidade de uma emoção ligada a uma ação, no caso, o montanhismo.
O interessante nessa discussão, é que temos duas gerações debatendo sobre quais são os valores, as roupas, as músicas e os estilos de escalada, que classificam uma pessoa como escalador ou não?
Será que um cara que ouve rock é escalador e o que ouve eletrônico ou pagode não é?
O escalador de ginásio, que só vai de vez em quando vai para rocha, mas manda vias que temos até medo de olhar, é um montanhista ou não?
Será que usar roupas velhas e rasgadas, lycras, Kichute nos pés, pintar ou não os cabelos, vão tornar um ótimo escalador?
Creio que nenhuma dessas perguntas tenha uma resposta óbvia, já que todos temos certas pré-definições do que é o montanhismo e como devemos nos comportar.
O que para uns é apenas um momento de prazer, para outros é apenas mais um chance de competir.
Esses conceitos foram debatidos, analisados e muitas vezes não compreendidas, porque é um tema muito pessoal.
Logo, o importante não é discutir quem é o que , mas sim discutir qual é a melhor forma de colocar todas essas tribos no mesmo lugar, sem desmerecer os mais antigos ou os mais novos e principalmente sem degradar as bases das vias, danificar as rochas ou sem impactar muito nossas montanhas.
Direito Autoral na Internet e na Montanha
Direitos pela criação e pelo uso de qualquer obra é um tema polêmico tanto no mundo virtual como no montanhismo. Na internet já sabemos das mazelas das gravadoras, dos estúdios e das editoras por conta da divulgação e consumo de seus produtos sem o devido pagamento.
Alterações no traçado, vias passando por cima de outra, vias muito próximas sem proteções em péssimo estado de conservação, falta de informações sobre determinada região ou via, e a falta de informação sobre o conquistador, quando necessário a interferência, são as principais dificuldades encontradas quando se trata de escalada em rocha no Brasil. É bem verdade, que no últimos anos, surgiram vários guias de escalada, mas ainda não temos regras sobre conquista, metodologias ou uma opinião uniforme sobre o assunto. Li um artigo sobre direito autoral para Blogs, Podcast e E-Books que serviriam muito bem às nossas necessidades. Como exemplos existe um projeto que no Brasil tem o patrocínio da GV, chamado Creative Commons, uma ONG que disponibiliza licenças flexíveis e legais pré-determinadas e que permitem aos leitores copiar, distribuir ou alterar seus artigos, com uso comercial ou não, desde que atribuam o crédito ao autor seguindo as normas descritas na licença. Poderia funcionar... Veja aqui nossa licença. |
Culinarista "a la Montagne"
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Viva a Tecnologia!
Os últimos 15 dias foram muito movimentados para os desenvolvedores de Apis e editores de Blogs ligados a tecnologia, principalmente a Microsoft e a Google, o GGD (Google Developer Day) aconteceu dia 31 de maio juntando mais de 5.000 desenvolvedores simultaneamente em vários lugares do mundo para discutir, mostrar e ouvir tudo sobre as tendências do meio digital. Já a Microsoft recentemente convidou os principais editores de Blogs do Brasil para um bate papo sobre TI Isso mostra a força e a importância da informação transmitida de maneira não oficial, reforçando o que escrevi no post "Esses homens fantásticos e suas tecnologias maravilhosas" onde, a cada dia, a integração entre os gigantes da informática e o consumidor final terão que ser simples e diretos, permitindo uma participação cada vez maior na hora de criar e desenvolver novos produtos. Isso quer dizer que em pouquíssimo tempo, as cartas do IBGE serão usadas apenas para consulta ou por mero hobby, isso porque facilmente teremos acesso a um banco de dados completo, com coordenadas, cotas e desnível magnético, impressões em 3d, convergência com outros softwares, tudo ligado aos GPS's e outros equipamentos móveis. Agora é torcer para que não nos esqueçamos de como se usa uma bússola, afinal ela é o único instrumento confiável e que não precisa de bateria. Viva a Tecnologia!! |
As montanhas e o Oxigênio, uma relação nem sempre muito feliz
Numa tarde ensolarada, você está lendo uma revista que descreve as dificuldades que certo montanhista teve para preparar sua escalada rumo ao cume do Everest. Ele descreve como entrou em contato com uma empresa específica em colocar clientes no cume do Everest ao preço de $40.000 por pessoa, os preparativos físicos e logístico, a longa caminhada de aproximação, as dificuldades dos sherpas em instalar as cordas no primeiro dia da temporada, o cansaço, a quantidade de pessoas escalando ao mesmo tempo e finalmente sua foto no cume. Uma foto que mostra o escalador cheio de roupas e com uma bandeirinha de seu país, mas uma coisa te chama atenção. Esse montanhista está com um tubo no rosto e você fica sabendo que é oxigênio.
Cena 2
Um tempo depois você lê outra reportagem sobre escalada no Everest, mas dessa vez é a história de um casal de Brasileiros que tentam pela oitava vez, fazer o cume, sem ajuda de sherpas e de agências, sem patrocínios, dividindo a permissão com outras agências para terem o direito de estarem escalando nessa temporada e com uma logística toda montada por eles, e somente para eles.
As fotos são parecidas, porém sem o tal tubo de oxigênio.
Imaginou a cena? Agora, o que diferencia os dois personagens?
Parece sutil, mas temos aqui dois representantes totalmente diferentes dos amantes da alta montanha. O primeiro é o típico turista-montanhista que busca o cume a todo custo, de uma maneira "segura" e, independente dos custos e da metodologia o que ele quer é estar lá.
O segundo representa a vertente mais clássica dos montanhistas, onde a relação com a montanha deve ser justa e equivalente, e todo beneficio ou melhora artificial não é aceito.
Baseado nessa opinião, em 2007 a UIAA (União Internacional das Associações de Alpinismo) publicou uma nota dizendo que qualquer escalada com o uso de oxigênio passa a ser considerada dopping, conseqüentemente sem valor.
Os montanhistas que vão para esta montanha são de várias partes do mundo, todos com uma visão ética baseada em sua cultura e um biotipo baseado na cultura alimentar de seu país, o que gera uma discussão de valores totalmente globalizada com todas as interferências culturais de cada povo.
O que estamos discutindo na verdade não é uma proibição de escalar com ou sem o oxigênio, ainda mais porque seria impossível fiscalizar uma conquista feita com oxigênio e outra sem, assim como uma conquista feita com a ajuda de sherpas e toda uma estrutura e outra feita pelo método clássico.
Uma vez um mergulhador me explicou porque era proibido pescar com cilindros. Sabem por quê? Porque é injusto para com o peixe, já que você está com o arpão e o oxigênio, que chance teria o peixe!?
Assim é com a montanha, que chance tem ela se todos forem super preparados com equipamentos artificiais e toda logística montada pelo povo mais adaptado as grandes altitudes?
Segundo o site Everestnews.com, dos mais de 600 montanhistas que fizeram o cume nessa temporada, apenas dois fizeram sem oxigênio.
Parabéns ao Paulo e Helena Coelho, por mais essa tentativa!!!
Outros vídeos do Paulo e Helena no Everest 2007, aqui
Consumidor Consciente
Quem é de São Paulo, provavelmente já conhece ou já ouviu falar de Monte Verde, um pequeno vilarejo incrustado no meio da Serra da Mantiqueira, a aproximadamente a 1500 metros de altitude.
Monte Verde para os turistas tem aquele apelo de tranqüilidade, romantismo, boa gastronomia, bons hotéis e a "aventura radical" que os vilarejos de montanha proporcionam para pessoas um pouco mais refinadas.
Porém o que isso tem haver com montanhismo? Quase nada. Conheci Monte Verde a mais de 10 anos em minha primeira travessia (S. Francisco do Xavier x Monte Verde) com um daqueles roteirinhos do Beck, xerocados e comprado nas lojas de aventura de SP.
Em nem imaginava o que aquela travessia iria me proporcionar. Primeiro, eu não sabia o quão frio eram "aquelas bandas" e quase entrei em hipotermia na primeira noite, não tinha a mínima idéia de orientação, alimentação e equipamentos, planejamento nem pensar!!!! Quando resolvi fazer a travessia, estava começando a ler o pouco de material que se achava na época e resolvi ir sozinho, pensando que seria fácil desbravar aquela serra.
Acabei fazendo uma travessia de um dia e meio em quase três dias!
Depois de algum tempo perdido em cima da serra, de uma noite mal dormida no meio de um reflorestamento, e de um feriado chuvoso, finalmente cheguei a Monte Verde, com a ajuda divina de um cara que estava passeando a cavalo no meio do reflorestamento.
Monte Verde não mudou muita coisa nesses mais de dez anos no que diz respeito a sua área geográfica, ainda sinto aquele "frio na barriga" ao lembrar do que passei em cima da montanha, mas também sinto aquela emoção de conquista, de realização, de satisfação, ao terminar uma travessia. Sinto isso toda vez que passo na trilha que saí da montanha para a vila.
Nesses anos voltei inúmeras vezes aquela serra, fiz várias outras travessias na região, conheci pessoas diferentes, levei pessoas para conhecer as trilhas, desbravei todas as suas montanhas.
Agora estava preparado para frio, sabia me orientar, me alimentar, sabia como reagir ao cansaço e as trilhas ficavam cada vez mais prazerosas para mim, cheguei até a sair a tarde de SP para chegar de madrugada na montanha, só para dormir lá.
Mas nunca tinha ligado muito para a vila, com seus turistas de inverno, de jipões 4x4, hotéis caros, suas lojinhas de queijos e vinho. Chegava lá, comia alguma coisa na padaria e pegava o primeiro ônibus para Camanducaia (Monte Verde é Sub distrito dessa cidade) e depois para SP, até que Deus me abençoou e casei com a Cris, que tem família justamente aonde? Em Monte Verde!!
Passei a conhecer o outro lado da vila, andava por ruas que nem sabia que existiam, que subiam até as bases das montanhas, conheci seus rios e riachos e principalmente sua história.
Monte Verde começou quando Verner Grimberg, um imigrante Leto que trabalhava com madeiras, começou a vender os primeiros lotes de terreno nos anos 50, atraindo principalmente Cristãos Batistas que vinham com seus pais para a colônia da Varpa, em Tupã (SP).
O Seu Verner, como ficou conhecido, morreu no fim do ano passado, após criar uma "cidade" com toda infra-estrutura necessária para se viver, ganhar dinheiro e principalmente influenciar uma geração inteira de imigrantes Alemães, Letos e Russos, com seus ideais de vida.
Seu Verner não era exatamente o montanhista como conceituamos hoje, mas ele amava as montanhas igual ou mais do que nós. Quando comprou alguns lotes da antiga fazenda "Campos do Jaguari", que era habitada por não mais do que algumas poucas famílias, por alguns "contos de reis" que tirou do bolso, já sabia que estava comprando uma terra de sonhos, terra que seus pais almejavam quando vieram da Letônia para o Brasil, fugindo da Primeira Guerra Mundial e do Comunismo que avançava na Europa.
Veio com ele sua esposa (Dona Emilia) e alguns familiares. Depois de algum tempo e, de comprar vários terrenos da região, passou a chamar a antiga fazenda de Monte Verde, que é uma tradução livre de seu nome.
Com o tempo foi criando uma infra-estrutura simples, mas eficiente para os moradores, como gerador de energia elétrica, fez a capitação de água com mais de 40km de tubos enterrados, casas de madeira, criou uma pequena olaria e tudo da maneira mais consciente possível.
Hoje, Monte Verde tem inúmeros bons hotéis, bons restaurantes, ainda não possui muitas ruas asfaltadas e tem casas com valores de mercado que superam muitos bairros de SP e com isso o sonho do seu Verner foi dando espaço a muitos sonhos de pessoas diferentes, com valores diferentes e consumidores nem tão conscientes.
Antes, Seu Verner tinha que pedir autorização para cruzar a área da melhoramentos e ir até a estrada para pegar turistas, hoje eles vem aos montes com carros importados, roupas da moda a procura de uma "aventura" diferente.
É nesse ponto que queria chegar, dá mesma forma que não fui orientado em nada ao comprar o roteirinho do Beck , sobre o que era uma travessia, quais os cuidados e "riscos" que envolvem a prática do montanhismo, os turistas também não o são.
Pessoas que poderiam ser informadas antecipadamente sobre o impacto que seus carros trazem aquelas ruas apertadas, sobre a fauna e flora que há muito tempo vem sofrendo sérias conseqüências, sobre o barulho que fazem nas noites de fim de semana, o lixo que deixam em uma vila que não tem estrutura o suficiente para atender toda essa gente.
Numa entrevista, vi seu Verner citar que gostaria de ver a cidade crescer, que a estrada que liga a Camanducaia fosse asfaltada, que suas crianças tivessem uma melhor educação, mas que isso tudo fosse para garantir a tranquilidade e a qualidade de vida de seus poucos moradores.
O refúgio que vi há poucos anos atrás está sendo ameaçado, a pequena comunidade de montanhistas da região a muito tempo denunciam a falta de respeito com as bromélias que brotam nas paredes das montanhas, sobre a falta de ética das "agências" ao colocar "Ps" (para rapel) em cima de paredes com ninhos de aves, a falta de investimento e reciclagem do lixo produzido por todos e muitos outros problemas sociais criados pela vinda de muitas pessoas de cidades próximas para trabalhar nos hotéis e restaurantes.
A disputa política sobre a emancipação de Monte Verde gera um "esquecimento" por parte do prefeito de Camanducaia das principais necessidades reais da região e o que podemos ver, ainda são os feitos que o seu Verner deixou. O aeroporto (o mais alto do Brasil) continua lá, a rede de água que foi doada a Sanasa teve poucas alterações, o terreno da escola, do hospital são os mesmos, as cachoeiras já não são mais acessíveis, a água do principal rio agora é imprópria ao consumo humano, não há mais tantas frutas na região e os esquilos sumiram há algum tempo.
E depois de tudo, ainda estou me perguntando se "Temos o que comemorar no Dia do Meio Ambiente"!
Temos o que comemorar no Dia Mundial do Meio Ambiente?
Penso que nossos parques, reservas, rios e montanhas, poderiam ser muito piores do que são, mas justificar através de desculpas a situação em que deixamos nosso Meio Ambiente, não nos eximiria de nossa culpa.
Vou dar apenas alguns exemplos do que vejo nas montanhas:
- Os parques em geral são criados apenas no papel, muito mais burocrático do real;
- Não há recursos para todos os parques e quando recebem fazem mal uso do dinheiro público;
- Não há educação ambiental para os funcionários, tão pouco para a população local, que por conta disso continua poluindo rios, trilhas, criando gados em campos de altitude e plantando com métodos rústicos e de alto impacto ambiental;
- Os parques não possuem estrutura real para atender turistas e o que dirá montanhistas;
- Não há incentivo ao estudo de mínimo impacto, nem como a produção de material de apoio como: mapas, guias, cursos, etc..
- Os parques não possuem estrutura administrativa para agendar, coordenar e incentivar a visita de maneira consciente;
- Não há preocupação com locais de acampamento, coleta de lixo, sistemas de busca e resgate;
Entretanto, os primeiros passos já foram dados. A criação de convênios entre prefeituras e entidades, uma maior preocupação dos cidadãos em geral (mesmo que ainda seja uma parcela muito pequena da população) e uma maior variedade de revistas e artigos com focos ambientais.
Quem conhece parques fora do Brasil, volta com aquela impressão de que realmente estamos em um país de 3º mundo, mas a realidade não é bem assim.
Sabemos que parques como o da Patagônia, possui uma estrutura enorme em funcionamento, os guardas-parques são formados com nível superior, há todo material (guias, mapas, etc..) necessário para as caminhadas, há refúgio, áreas de acampamento, mas núcleo ambiental em um país pequeno é uma coisa, num país continental como o Brasil é bem diferente, dados aos interesses de cada um.
Isso mostra que além da educação, temos que analisar como enxergamos nosso meio ambiente, nossas montanhas, Leonardo Boff diz que:
"Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com o olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita."
Então na verdade o que estamos dizendo, é que não basta lutar por um "mundo melhor", se esse mundo melhor é diferente para cada um. O que é necessário é uma consciência ambiental mais sólida em nosso país, uma consciência que atinja todas as classes sociais, para que essas mudanças reflitam em nosso meio ambiente.
Mas o que fazer agora? Temos que continuar lutando. Lutando por uma base mais sólida na educação civil , porque essa base é que será necessária para manter o pouco que vai sobrar daqui para frente.